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O sonho começou cedo. Lutando
para vencer a areia do caminho em subida que levava do Jardim
Bela Vista para o Aeroclube de Bauru. Enquanto pedalava ofegante,
os olhos procuravam por aviões entre as nuvens.
O cheiro de combustível, o ruído dos motores, as
cores da pintura sobre formas aerodinâmicas elegantes, o
sonho de estar na cabine, nos comandos. No regresso para casa,
os braços abertos sobre a bicicleta. “Planando”
na descida. Vento no rosto. Idéias na cabeça. Muitas
delas.
Do sonho à realidade foram muitas longas noites de estudo.
Trabalho solitário. Algumas vezes pensava se valeria a
pena realmente. Afinal, convites dos amigos para festas e encontros
eram comuns na idade. O coração estava dividido.
Contudo, a mente confirmava o compromisso com o ideal. Fechava
os olhos. Ouvia o motor e o vento, via a paisagem lá embaixo.
Vale a pena! Vale a pena!
“Amigos” algumas vezes tentavam me “lembrar”
dos meus limites. “Isso não é para você!”.
“Contente-se com o que você tem agora!”. “Isso
de ser piloto é coisa para rico!”. “Cuidado
para não perder seu emprego na oficina!”. “Cuidado
para não se desiludir quando não passar no concurso.
Precisa ter QI (Quem Indique), senão não passa!”
Pessoas, por bem ou por mal, frequentemente tentam colocar limites
nos seus sonhos. Tentam impor os seus próprios limites
a você. O pior é que muita gente aceita esses limites
impostos pelos “amigos” e consideram-se incapazes
de realizar alguma coisa que sempre desejaram. “Eu nunca
conseguirei fazer isso!”, pensam, convencidos da sua própria
incompetência. Mesmo sem nunca terem sequer tentado!
Ignorei todos os “conselhos”. Segui meu coração.
Acreditei no desejo mais forte. Tornei-me um piloto. Voei meus
sonhos. Alto, veloz, muito além dos limites que queriam
me impor. Sou feliz por isso também. Não apenas
por ter voado, mas por demonstrar que é possível.
Hoje acompanho a vida de milhões de jovens. Muitos pedalando
bicicletas na areia. Muitos no conforto do ar condicionado dos
carros de luxo. Todos com as mesmas chances de “voar”
seus ideais. Basta que confiem no próprio coração.
Basta não acreditarem nos limites impostos a eles. Basta
que tomem o seu destino nas mãos e façam a sua parte.
Quando digo isso, certamente alguns derrotados irão discordar
enfaticamente. Adultos frustrados, acreditaram que eram limitados
e desistiram dos seus sonhos. “Aconselham”, assim,
a todos que façam o mesmo. Aconselham aos jovens que sejam
covardes como eles foram e que repousem na segurança confortável
da mediocridade. Sentem-se melhor assim. Quanto mais pessoas conseguirem
convencer a desistir, como eles fizeram, melhor poderão
conviver com a sua própria incompetência. Pobres
de espírito. Perdem dessa forma mais uma chance de realizarem
alguma coisa realmente útil na vida.
Obstáculos? Claro que eles existem no caminho. Evidente!
Ainda bem! Ninguém pode ser ingênuo a ponto de pensar
que alguma coisa pode ser obtida, algum sonho pode ser realizado,
sem encarar obstáculos, sem trabalho pesado, sem suor,
sem raça, sem determinação, sem cair, sem
persistir...muito, sem sentir medo, sem ter coragem para vencê-lo.
Isso é parte essencial do orgulho da vitória. Obstáculos,
medos e dificuldades são importantes. Alguns são
naturais. Muitos são criados por nós mesmos ou por
“amigos”. Encaramos tudo como simples “exercícios”.
Problemas de matemática, por exemplo. A cada um que resolvemos,
aprendemos algo mais, nos aperfeiçoamos. Conhecemos algo
mais, algum detalhe extra. Desenvolvemos alguma habilidade nova.
Qualquer coisa que um dia poderá nos auxiliar a encontrar
a solução para tópicos mais complexos. Não
temos problemas, temos oportunidades.
E assim, entre todos esses elementos da vida, encontramos situações
e pessoas. Algumas que, com o seu trabalho, dedicação,
exemplo e atitudes positivas, nos desafiam e inspiram. Outras
que, simplesmente, servem de cenários. Só você
pode escolher a qual grupo quer pertencer!
Marcos
Pontes é astronauta, mestre em engenharia de sistemas,
engenheiro aeronáutico, piloto de provas de aeronaves,
consultor, empresário e colunista. Atualmente o astronauta
continua a disposição do Programa Espacial Brasileiro,
participando e assessorando nos seguintes projetos: participação
brasileira na Estação Espacial Internacional, Programa
Microgravidade, AEB Escola, Veículo Lançador de
Satélites, desenvolvimento de foguetes suborbitais e Satélite
SARA. No setor privado, Pontes atua como consultor técnico
e gerencial junto a empresas de renome, com ênfase nas áreas
de segurança do trabalho, gerenciamento de riscos, motivação
e gerenciamento de projetos.
A
reprodução deste artigo é permitida
desde que seja na íntegra e que seja citada a fonte:
www.marcospontes.net |
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